Construído em 1914 por Pinillos Izquierdo, o maior armador espanhol na época, o transatlântico Príncipe de Astúrias era extremamente moderno e luxuoso, e foi projetado para transportar pessoas e cargas comerciais na rota entre Espanha e Argentina, mais precisamente entre as cidades de Barcelona e Bueno Aires. O navio, que era considerado um dos mais modernos e luxuosos do mundo, chegou a cumprir com êxito 5 viagens, transportando entre 1.400 e 1.800 passageiros em cada uma delas. Tanto ele quanto seu irmão gêmeo, o Infanta Isabel, possuíam 150 metros de comprimento, casco duplo, mais de 18 metros de boca e quase 10 metros de calado. Isso sem contar no modelo de propulsão com mais de 1.000 HPs que giravam 2 hélices duplas gigantescas. Considerado o “Titanic brasileiro”, o Príncipe de Astúrias teve um final trágico em sua 6ª viagem, onde naufragou na costa de Ilhabela em 1916, passando a ser considerado uma das maiores tragédias marítimas da história. Em 04 de março de 1916, o navio, que partiu do porto do Rio de Janeiro e se dirigia ao Porto de Santos, levava a bordo, segundo a lista de passageiros, 654 pessoas. Há indícios de que o número era muito maior, provavelmente semelhante aos das 5 viagens anteriores, considerando os aproximados 1.000 passageiros clandestinos escondidos nos porões fugindo da Europa por conta da Primeira Guerra Mundial, além dos tripulantes não registrados que trabalhavam em maquinários pesados como fornalhas, por exemplo. Na madrugada de 05 de março de 1916, durante um grande baile de Carnaval, o navio mudou sua tradicional rota, passando entre as ilhas de Búzios e Vitória, no arquipélago de Ilhabela. Exatamente igual ao filme Titanic, as pessoas dançavam e a banda tocava, mas, dessa vez a noite era de tempestade. Existem algumas especulações sobre as causas da mudança de rota do Príncipe de Astúrias, algumas sobre o magnetismo das pedras da região terem deixado as bússolas “perdidas”, outras sobre algum erro de navegação causado pelo mal tempo, e até teorias sobre planos e conspirações da tripulação querendo se apropriar da valiosa carga que estava a bordo, entre elas 11 toneladas em ouro e milhões em moedas diversas. Cada vez mais se concretiza a hipótese de o maior naufrágio da história brasileira ter sido criminoso, tendo o capitão do Príncipe de Astúrias como envolvido. Como já relatou um sobrevivente, o navio fez uma parada para ajeitar a carga poucas horas antes do Porto de Santos, ou seja, provavelmente no momento do desvio por entre as ilhas de Búzios e Vitória. O espanhol Isidor Prenafeta Sales, neto de Gregorio Sales, sobrevivente do naufrágio, cita em seus relatos os dizeres do seu avô, de que no momento do acidente, o Príncipe de Astúrias não tinha seu capitão presente, pois ninguém o encontrava. Gregorio era integrante da tripulação do navio, um entre os 193. O jornal A Folha de São Paulo, em um artigo recente, diz que: “as 11 toneladas de ouro, que não tinham sido declaradas oficialmente, estavam em cofres na cabine do capitão José Lotina”. Alguns dizem que o capitão pretendia roubar a carga do navio e fazê-lo chegar ao seu destino final são e salvo, porém “depenado”. O fato é que de são e salvo não teve nada, pois em poucos minutos o imponente navio espanhol Príncipe de Astúrias iria a pique nas águas da costa de Ilhabela. Às 4h15 da manhã do dia 05 de março de 1916, o navio se chocou com as lajes da Ponta da Pirabura em uma noite de mau tempo, e foi aberto um rasgo de 44 metros de comprimento no casco do navio, permitindo que a água do mar tomasse conta dos compartimentos e chegasse até a sala de caldeiras, onde ocorreu uma grande explosão. Tal explosão danificou o gerador de energia, que fez com que o navio inteiro ficasse no escuro. O conhecido naufrágio do Titanic havia acontecido 4 anos antes, em 14 de abril de 1912, mas o tempo que levou para o navio submergir por completo foi de 2h40. Diferente disso, em apenas 5 minutos o Príncipe de Astúrias já estava completamente no fundo do mar. Infelizmente, apenas 177 pessoas sobreviveram, a grande maioria resgatada por um navio que passava por perto. Os que não tiveram a sorte de serem salvos, caminharam e dormiram nas matas da ilha por dias antes de serem encontrados. Estima-se que mais de 1.000 corpos chegaram às praias do litoral norte, muitos deles às praias da Serraria e Caveira. Alguns dizem que a Praia da Caveira leva esse nome pois recebeu grande parte dos corpos provindos do naufrágio, e realmente recebeu. A grande questão é que o naufrágio aconteceu em 1916, e um mapa datado de 1912 já mostra a praia tendo esse nome. Talvez daí a lenda da Praia da Caveira, que diz que um padre que passava de barco pelo local encontrou, em meio aos destroços de um naufrágio de galeão de escravos, corpos boiando próximo a praia e os enterrou debaixo de uma figueira. Há quem diga que vozes podem ser escutadas no final de tarde próximo a essa árvore. Mas uma coisa é certa, mesmo temida por muitos e com tantas histórias trágicas e aterrorizantes, a Praia da Caveira sem dúvidas é uma das joias mais raras e preservadas do Arquipélago de Ilhabela, mantendo até hoje sua vegetação, córregos, areias e mar preservados e longe da maioria dos seres humanos, pois lá não há ninguém que se arrisque a viver.